A Sagrada Família é talvez o único filme português feito de raiva. A depuração formal é extrema e corresponde, de resto a igual depuração temática, se é que faz algum sentido estar a separar uma e outra num filme para além dos filmes como é este. Aos actores pede se só que sejam actores que é o mais difícil de lhes pedir, porque dizer que se lhes não dá nada em troca. Como eu já disse noutra “folha”, que patati-patatá, num dado filme havia uma actriz em estado de graça, não convém nada estar a repetir-me. Até porque devo aqui dizer mais do que isso. E, meu Deus, o que não será preciso dizer desta Manuela de Freitas. Não sei. Não digo. E andor. À luz pedia-se que fosse luz, e não é, porque é ar filtrado, água que se derrama. O branco é branco o preto é preto. O som é directo. (Nem sempre, verdade seja dita, porque foi preciso meter o mar e o Amadeus, mas fica assim, porque me dá jeito para acabar e parecer lógico ).
M. S. Fonseca
Publicado pela Cinemateca Portuguesa, a 20 de Abril de 1985