• Um mover d’olhos, brando e piedoso

    Luiz de Camões


    Um mover d’olhos, brando e piedoso,

    sem ver de quê; um riso brando e honesto,

    quase forçado; um doce e humilde gesto,

    de qualquer alegria duvidoso;

    um despejo quieto e vergonhoso;

    um repouso gravíssimo e modesto;

    uma pura bondade, manifesto

    indício da alma, limpo e gracioso;

    um encolhido ousar, uma brandura;

    um medo sem ter culpa; um ar sereno;

    um longo e obediente sofrimento:

    esta foi a celeste formosura

    da minha Circe, e o mágico veneno

    que pôde transformar meu pensamento.