• 30Nov

    Ciclo sobre João César Monteiro abre actividade da Comunidade de Cinéfilos da Biblioteca Municipal da Nazaré

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    «João César Monteiro é um realizador genuíno e único na cinematografia portuguesa». Foi desta forma que José de Matos-Cruz, professor e historiador de Cinema, apresentou o cineasta que abre, em chave de ouro, a primeira actividade da Comunidade de Cinéfilos.

    O ciclo de cinema “Um olhar sobre… João César Monteiro” arrancou no passado domingo, dia 22, com uma sessão dedicada ao controverso artista. Para além de Matos-Cruz, estiveram presentes Margarida Gil, realizadora e companheira de João César Monteiro, e a actriz Manuela de Freitas, que participou em muitos dos seus filmes.

    De acordo com o historiador de cinema português, a obra de João César Monteiro (JCM) reflecte, por um lado, «um constante questionamento ético» da natureza humana e, por outro, «uma representação da identidade portuguesa». «Enquanto cineasta, através da estética e da comédia, permite-nos gozar com o ser português», afirmou Matos-Cruz, considerando que, mais do que um realizador, JCM era «um criador de cinema».

    Ao fazer uma incursão pela polémica obra do realizador, Matos Cruz frisou que «a aparente vulgaridade e sordidez» presente nos seus filmes era, afinal, «reflexo último do seu sentido ético».

    Já Manuela de Freitas destacou a «sofreguidão pela vida» que era característica de JCM e, por isso, o autor «não aceitava nada que escondesse a vida». «Ele ia buscar beleza às coisas mais simples e vulgares», afirmou a actriz. Trabalhar com um realizador que «não aceitava clichés» nem «artificialismos» constituía, segundo Manuela de Freitas, «uma constante provocação para os actores», porque esperava que estes «transmitissem o que havia de mais genuíno e o mais profundo do ser humano».

    Já Margarida Gil recordou as origens de “borda d’água” de João César Monteiro, nascido na Figueira da Foz. «A sua obra transmitiu muito da cultura marítima desta zona», afirmou a também realizadora, que definiu o seu antigo companheiro como «uma figura única no mundo da cultura, e não apenas do cinema». Homem de gostos eruditos em termos literários e musicais, JCM «tinha também amor e respeito pela cultura popular», frisou Margarida Gil, que recordou ainda as dificuldades financeiras sentidas pelo realizador ao longo da sua vida. «Ele passou pela miséria sempre com elegância, sem lamechices e sem fazer concessões», concluiu.

    A Comunidade de Cinéfilos é um projecto que nasce no seio da Biblioteca Municipal da Nazaré e que pretende, numa primeira fase, levar a efeito um ciclo mensal de cinema temático. Abordar o cinema sob vários pontos de vista e motivar o debate de ideias nos participantes da comunidade de cinéfilos, contando, para tal, com a participação de convidados na sessão inaugural de cada ciclo, é um dos principais objectivos desta iniciativa.

    O ciclo dedicado a João César Monteiro prossegue, no próximo domingo, com a exibição do filme “A Comédia de Deus” (1995); dia 6 será exibido “As Bodas de Deus (1999) e, a terminar, dia 13, “Vai e Vem” (2003). As sessões têm lugar no auditório da Biblioteca Municipal da Nazaré, às 16 horas, e têm entrada livre.

    http://www.cm-nazare.pt

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