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Quarta [27]
11h00-12h30 Paula Soares – A retórica do tempo: cinema de João César Monteiro [resumo]
Paula Soares – Univ. Nova de Lisboa (instituição de acolhimento do doutoramento); Univ. Coimbra – Faculdade de Letras e Colégio das Artes (instituição de acolhimento do pós-doutoramento)
A retórica do tempo: cinema de João César Monteiro
Abstract: Ao estudar a obra fílmica do cineasta português João César Monteiro e ao verificar a extensão do tempo nos planos dos seus filmes, fui de encontro à ideia de uma retórica do tempo. Um tempo “suspenso”, conceito estabelecido pelo pensador José Gil, no seu livro Salazar: A Retórica da Invisibilidade.
Uma retórica marcada pela reiteração e pela prorrogação fantasista.
Reiterar, para manter; prorrogar para adiar a acção e alimentar a encenação.
A política do Estado Novo, solitária e absolutista, promoveu uma retórica singular, onde o tempo se encasula, ganha força e tensão, imobilidade. Cristalização do movimento que parece passar para o cinema, brotando pela palavra e pela silhueta gestual. O corpo pressente-se na contenção dos movimentos, a acção e o pensamento reprimem-se; contudo o desejo da liberdade eterniza-se numa imagem que se prolonga. Expressão de uma ideia que não sabe, que não pode descontrair-se, mas que pode alimentar um tempo de espera, que está na origem das imagens que não são estáticas, mas sim compostas; composição de ideias num movimento inexorável do tempo.
O tempo transporta-se para o futuro, excluindo-se do presente que se suspende.
A realidade manifesta-se na fantasia de um futuro.
O espaço perde contacto com o real.
Da experiência da retórica salazarista, fica algum do cinema português influenciado culturalmente pela noção de tempo “suspenso” (em particular o de João César Monteiro, objecto de estudo) que se expressa em planos longos, constituídos por um espaço “bididimensionalizado”, pouco profundo, e uma duração temporal “estendida”. O cinema despossui-se da volumetria ao planificar-se pela subtracção da acção, adquirindo um efeito de tempo circular que mantém a imagem cinematográfica em suspensão e tensão.
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