Entrevista de Ricardo Paulouro publicada na revista Textos e Pretexto Nº6
http://www.a23online.com/2009/08/10/jose-manuel-castanheira-o-dramaturgo-do-espaco/
Em 2002 fez a cenografia para o filme Vai e Vem de João César Monteiro. Quais são as principais diferenças entre a cenografia para teatro e cinema?
- Todas as artes do espectáculo vão beber à fonte mãe que é o teatro. O João César Monteiro um dia telefonou-me e convidou-me para trabalhar com ele neste seu filme. Foi uma experiência fabulosa. César Monteiro era um homem que sabia muito bem e criteriosamente o que queria. Uma das cenas do Vai e Vem passa-se na sala-biblioteca. César Monteiro era um homem que vivia rodeado de livros e de música. Quando projectámos essa biblioteca, tive de arranjar uns milhares de livros para encher todas as prateleiras. No entanto, para nosso espanto, o João César viu os livros um a um! E recusou mais de metade dos livros. Muitos não perceberam esta atitude. No entanto ela é perfeitamente legítima. Ele tinha de se sentir bem naquele espaço, não só no filme mas no dia a dia onde ele viveria uma série de dias, intensamente. Aquela biblioteca não era uma biblioteca a fingir, mas sim real. O problema resolveu-se com livros da casa dele, dispostos nos sítios mais estratégicos. O trabalho com César Monteiro foi para mim uma aprendizagem. Por exemplo, a compreensão e o tratamento da luz, a depuração, o extraordinário cuidado com a composição do espaço tornando-o o mais enxuto possível, em função do essencial. Estes são princípios nos quais eu acredito.